Mistérios do coração humano



Há quem diga que as coisas que devemos conhecer serão muito repetidas até que possamos e queiramos entendê-las, ou seja, quando as vemos gerar fatos em nossa vida, ou nos dispomos a fazer com que os gerem.
Assim ocorreu comigo em relação a um antigo ensinamento, por estes dias. Falava-se que, segundo a filosofia oriental, o Ser que está por trás de todo o Universo é tão misterioso, que a única coisa que podemos afirmar sobre ele é que se manifesta e se recolhe, ciclicamente, como as sístoles e diástoles de um Coração; que bela relação simbólica! De repente, comecei a querer visualizar  uma imagem deste Coração... e, depois dele,  tentei ver o coração do sistema solar, o do planeta, o meu coração/essência espiritual e, por fim,  este coração pulsante que marca sua rítmica presença no meu corpo físico.
Por um momento, imaginei todos estes corações/Centro, distribuidores de vida em planos muito diversificados, como parentes, pertencentes a uma única categoria de Seres-coração, e... comunicados entre si. Como fez sentido! Lembrei das diversas noites sem conseguir dormir, com o pulsar totalmente anômalo do meu coração e sua fina e aguda dor, como se não fosse parte do meu corpo, mas um ser autônomo, querendo me transmitir algo...
Lembrei das curiosas discussões entre o coração e a mente, dentro de mim, quando esta última repassava o dia, na memória, e dizia: “Nada de errado aconteceu!” E o coração, impassível ante esta argumentação, doía e incomodava, assustando o sono. Enquanto não calava a mente e mergulhava nele, perguntando o que ele tinha a me mostrar, não conseguia pacificá-lo... e aí, ele me conduzia exatamente à cena, ao momento do meu dia onde o tinha ferido, onde tinha atropelado os protocolos da vida. Ao me comprometer com a correção deste erro, só assim lograva acalmá-lo; quantas vezes!
Parecia, para mim, como se ele fosse um portal, um mistério, uma passagem talvez, como um longo corredor... rumo a outros corações maiores, dos quais ele seria parte. Hoje, quando me lembro de tantos mestres, na história, que diziam falar com Deus, fico imaginando por quais “corredores” transitavam eles rumo a este encontro. E agradeço por meu dolorido coração, as esparsas “palavras” que esboça, e pelos espinhos a serem retirados dele, por tantas noites afora...em troca de comprometer-me com os cânones que devem reger a Vida.
Em um destes dias, ao ler uma reportagem sobre o antigo Egito e sua impressionante tecnologia, o jornalista responsável pela mesma comentava que o único ponto em que os egípcios tinham se equivocado era ao dizer que o coração é o centro do entendimento humano... nosso velho hábito de julgar o que não conhecemos. Honestamente, creio, como acreditavam os egípcios, que “O coração do homem é o maior mistério do Universo”. E talvez o umbral da condição humana esteja exatamente na capacidade de ouvi-lo, percebê-lo e “dialogar” com ele.
Subitamente, recordo de Homero e de sua Odisseia, quando o teimoso Ulisses, em busca de sua alma-Ítaca, só a encontra após perder seus barcos, seus homens, suas roupas, e emergir no oceano totalmente despido, exceto por um véu, doado pela Deusa Ino, que cobria apenas... seu coração. Assim, encontra o povo dos feácios, que o levarão a salvo para casa. A qual Odisséia de retorno à sua casa espiritual se referia o antigo poeta? À de Ulisses? Ou à da humanidade? Enfim, são mistérios, que talvez só interessem aos filósofos; interessam a você?

Comentários

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  2. Tem sido minha grande companheira, e agradeço muito...
    Sinto-me exactamente nessa fase, a tua, de ouvir o coracao, ou tvz, tentando emergir desse oceano. Só não encontrei a Deusa que me cobrirá o coração com um único véu... Coisas de filósofo? Maturidade? Vida?
    As vezes um desespero autêntico outras uma paz enorme e um ser cheio e amor...
    Bom saber que isso já aconteceu a outros, deixa a certeza de que passará, passará para uma alegria maior.
    Obrigado por tantas vezes fazer me compreender.
    Grande beijo André Domingues, Lisboa-Portugal

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  3. Me interessam. Me recordo, na pré e adolescência, quando frequentava a casa de algumas amigas, eu passava um tempo maior com as mães, perguntando, buscando saber sobre os mistérios da Vida.

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