Para quem, em férias, deseja uma boa dica de filme, vai uma comédia, um tanto antiga e aparentemente despretensiosa, mas que se tornou um clássico no gênero: “o Feitico do Tempo”, de 1993, dirigida por Harold Ramis e estrelada pelo ator americano Bill Murray.
Trata-se da insólita história de um apresentador de TV enviado a uma cidade do interior para fazer a cobertura de um pitoresco evento: o “Dia da Marmota”, que demarca o final do inverno. Por alguma misteriosa razão, o protagonista se vê prisioneiro do tempo: todos os dias, amanhece o mesmo Dia da Marmota, e se repetem as mesmas situações, infinitamente. Daí, se desenrola uma sequência de situações tragicômicas: primeiro, ele tenta tirar proveito de seu conhecimento antecipado dos fatos; depois, se entedia e, finalmente, se desespera até desejar morrer. Implacável, o tempo não o perdoa: todos os dias, repete-se a mesma data no relógio digital da mesinha de cabeceira.
Sem antecipar o final do filme, para não estragar a surpresa dos que ainda não o assistiram, caberia aqui uma reflexão interessante a esse respeito: o que faz com que o nosso ano seja novo? Não serão os mesmos dias e noites, os mesmos trajetos e pessoas, os mesmos trabalhos e lazeres...? Como todo ciclo de eterno retorno, o que faz com que a vida se renove, embora trilhe caminhos tão semelhantes?
Pense: todos os homens, grandes e pequenos, expressivos ou anônimos, que viveram em todos os tempos, viram o mesmo sol nascer e se pôr, contemplaram as mesmas estrelas, sentiram o mesmo vento em seus rostos. Amaram, foram amados, temeram, desejaram, ganharam e perderam... sonharam. Viveram o eterno conflito de necessitar do outro... e encontrar tanta dificuldade em conviver com o outro! Quantas vezes o sol presenciou a glória e o drama humano!
Simbolicamente, isso foi retratado como uma espiral, o que é curioso, pois, se repetimos as mesmas coisas da mesma forma, não traçamos uma espiral, mas andamos em círculos. A espiral presume passar pelo mesmo ponto... porém, um pouco mais acima, ou seja, ganhando altitude.
Em suma, o que faz com que as coisas sejam novas é a renovação, que se obtém ganhando altura como seres humanos. Imagine que aquela estrela, lá no alto da espiral cônica de nossa árvore de natal, é o ideal humano, que consiste em valores ativos, decisões conscientes, verdadeiros sentimentos, responsabilidade, fraternidade e tantas outras coisas que a fazem brilhar. Quem busca essa estrela é um idealista, nome que se dá ao homem que não exige que as circunstâncias mudem, mas procura responder às mesmas circunstâncias de forma cada vez mais humana. Hoje, isso não me tirará mais do sério; amanhã, encontrarei uma resposta para isso; depois de amanhã, ajudarei aos demais, que também passam por aqui, a sofrer menos, graças às soluções que encontrei; hoje, tal coisa me fere; amanhã, me faz refletir; depois de amanhã, me faz crescer... e por aí vai: eis a espiral construída.
Não vejo outra forma para que as coisas se renovem; senão, caímos na fantasia e no contrassenso: a marmota não pode deixar de ser marmota para virar outra coisa: essa possibilidade foge ao seu alcance. Nós podemos deixar de ser “outra” coisa” e sermos cada vez mais humanos: essa possibilidade está ao nosso alcance... e nós é que temos fugido dela, como quem foge da vida, e de se perguntar, com seriedade, o que a vida espera de nós. Pense quanta coisa já teria ficado para trás, se os anos fossem realmente “novos”!
Enfim, cabe-nos enviar, como reflexão final, nossos votos de que, neste ano, você não brigue com as marmotas, com os relógios ou com o tempo, mas simplesmente veja aonde quer chegar como ser humano e caminhe, sem pressa e sem pausa, rumo à sua estrela. Ainda nos dias nublados, não se esqueça de sua estrela, e não perca o passo. E assim, podemos desejar uns aos outros, com a confiança de que são mais do que meras palavras repetidas nos cartões de felicitações de todos os anos: Feliz Ano Novo!
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