Essa é uma história já não tão nova, e muitas vezes já foi repetida em sala de aula, mas que continua sendo fonte de reflexões para mim; por isso, acabei por querer compartilhá-la em um texto. Há alguns anos, quando eu morava em um prédio de apartamentos, passava casualmente por baixo do mesmo e resolvi depositar um saco de lixo que tinha nas mãos diretamente no container, a poucos passos de distância.
Fato banal,
se eu não tivesse observado algo que me chamou a atenção: em alguns sacos
entreabertos, dentro do mesmo container, havia vários álbuns de fotografia de
papelão amarelo e branco, daqueles no modelo “Kodak”, muitos mesmo, talvez
entre 10 e 20, dentro de dois sacos de lixo. Álbuns aparentemente cheios de
fotos.
Contive a
insensata curiosidade de mexer neles para folheá-los, mas carreguei comigo esta
mesma intrigante curiosidade, talvez até hoje. O que haveria ali? Lembranças de
um relacionamento encerrado com certa amargura? Restos da vida de alguém, pouco
significativa para a memória de seus descendentes? Por que não interessava a
ninguém lembrar daquele expressivo pedaço de vida contido em quase vinte
carregados álbuns de fotos?
Imaginei que
os personagens retratados nas fotos, quando as tiraram, devem ter julgado, é óbvio,
que era importante gravar e relembrar aqueles momentos. Ainda mais em um tempo
em que era necessário levar os filmes para revelar, colocá-los em álbuns...
Nossas modernas e rápidas fotos digitais admitem um pouco mais de
inconsequência. Mas ali houve uma apreciação prolongada no tempo sobre a
relevância daqueles momentos. Claro que, quem pensava assim, não pensa mais...
Ou não existe mais, fisicamente. E nada
daquilo vale mais nada: apenas faz volume em um container.
Isso criou
uma tipologia de fatos na minha vida: “Categoria Container”. Nestas, eu coloco
não apenas as dores, muitas vindas do meu orgulho ferido, do meu tempo mal
empregado, da minha personalidade que reluta em admitir sua própria
insignificância, mas também as alegrias banais e inconsequentes, as
“astraladas” momentâneas que não geraram nenhum estado de consciência já não
digo construtivo, mas pelo menos humano em mim ou nos coadjuvantes da cena.
Como, por exemplo, a pose desajeitada
ante a Esfinge do Egito, em que minha imagem ocupava 70% do espaço, e aquele
imponente colosso se espremia em apenas 30%... Só para lembrar aos meus
descendentes que, um dia, eu achei mais importante olharem para mim do que para
a Esfinge do Egito... E tantas, tantas outras coisas, concretizadas em fotos
mentais, emocionais ou físicas: tudo “Categoria Container”.
Honestamente,
não me parece patético ou triste visualizar os grandes embrulhos dentro deste
meu container imaginário. O que me dói mesmo é a pequena, minúscula quantidade
de coisas que ficou do lado de fora dele: o que se perpetuará, o que fará
diferença na minha vida e na dos demais, no final do filme. Dói comparar este
pequeno pacote com o tamanho dos meus legítimos sonhos, sempre enormes, e
minhas pretensões, maiores ainda. Sim, eu sei que há uma dimensão de tempo
maior do que a durabilidade de qualquer container sutil ou concreto, e que
sempre se poderá recomeçar. Mas o que foi desperdiçado foi Vida, e é duro e
cruel pensar em desperdiçar Vida e sonhos humanos, matéria prima fundamental
para mudar um mundo que necessita e anseia tanto por mudanças!
Claro, eu
tenho uma preciosa teimosia que não me permitirá desistir jamais e, com o
tempo, minha categoria “Out of Container” aumentará. Mas, se ainda resta um
pouco de dor nesta memória, não é tanto e apenas por mim; é pelo desejo intenso
de poder explicar aos outros que o desperdício é um ato insensato e, em última
instância, egoísta. Onde as palavras para passar esta vívida constatação? Essa
é uma tentativa; quem sabe, quem sabe... Esperança também é algo do qual,
felizmente, fui muito bem dotada...
Nossa se a senhora soubesse como transformou minha vida,foi a partir de suas palavras,a uns dois anos atrás q venho me tornado a cada dia outra pessoa,mais próxima de mim,a senhora me ajudou em tantas horas,esteve comigo em tantas perdas,em tantos ganhos...eu revejo tantas vezes certas palestras e cada vez são como livros,q a cada nova relida se criam novas realidades,novas oportunidades...pode ter certeza q seu out of contêiner deve estar cada dia maior,por tudo isso,sou grata a senhora infinitamente,por ter alargado meu olhar por ter feito minha vida mais bela e significativa,Deus a abençoe ricamente por isso. Fábia
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