Carta para Papai Noel



Querido Papai Noel:

Sei que tenho andado meio silenciosa nos últimos tempos; afinal, minha última carta foi aos nove anos de idade e, dentro de três dias, já chego aos 51... Mas escrevo exatamente para te provar que essas décadas de silêncio não significam em absoluto que eu tenha me esquecido ou desacreditado.
Foi bem difícil, sabe? Durante grande parte da minha vida, tentaram me provar que você não existia, e até tive que esconder essa minha crença. Confesso que até tentei desacreditar, mas havia uma imagem muito forte dentro de mim que não me permitiu: uma paisagem de neve e frio absoluto, e um velhinho sábio e generoso com roupas vermelhas como fogo, no meio de tudo isso. Sabe, Papai Noel, apesar de viver em um país de clima tropical agravado pelo aquecimento global, algumas vezes, nesse tempo todo, eu vivi esta paisagem gelada bem dentro do meu peito: indiferenciada, indiferente, vazia. Acostumada a me virar bem no calor às vezes extremo, confesso que frio deste tipo me pega sempre desprevenida, e gela completamente o meu coração. Corrijo: o gelo nunca foi completo... porque eu sabia que o senhor  se escondia por lá, em algum canto, ainda que eu não alcançasse vê-lo, certas vezes. Mas sentia; sentia o calor da sua generosidade, via o reflexo distante de alguma chama de fogo, ouvia os ecos do sorriso que sempre dizia: “Não esqueça! Nada é tão grave; nenhum frio pode me matar! (seguido sempre do indefectível hohoho, é claro), e isso me enchia (e enche!) de esperanças.
Depois destes anos de silencioso diálogo, eu resolvi, veja só, como recompensa pela minha incansável confiança, te pedir um presente. Não sei o que deu em mim; talvez tenha sido o tal nefasto efeito da propaganda infantil; o fato é que estou bem convicta disso: quero mesmo um presente, este ano.
Uma vez que me decidi a pedir, com cartinha e tudo, começou o difícil dilema de saber o que pedir, para aproveitar bem essa oportunidade, pois já não tenho tantas décadas assim pela frente e, julgando pela periodicidade das cartas até agora... talvez não haja outra. Mas que difícil... não me falta nada! Não consegui pensar em nada que eu quisesse tanto assim ter ou deixar de ter, embora remexesse o mundo dos desejos de polo a polo. Desejar é uma obra difícil: temos que saber o que nos falta para sermos completos, ou seja, temos que saber o que é um ser humano completo; a internet não diz. Talvez haja resposta numa “intranet”, que converse com nossa própria consciência... mas esta vive fora do ar.
Mas... espera um pouco, acho que descobri! Sim, sim, sim, já sei o que eu quero! Presta atenção, Papai Noel, pois este é um momento solene! Anote, por favor (não que eu duvide de sua proverbial memória, mas, como dizia minha vó, prudência e canja de galinha....): de presente de Natal, este ano, eu quero... sua presença. Muito, muito mais da sua luminosa presença. Sua luz, mais visível e perceptível, bem perto de mim. Seu calor, que prova que neves eternas, dentro de nós, são um blefe daqueles que, descuidados, não souberam proteger seus sonhos mais sagrados, e sopram a chama alheia, só de birra. Quero irradiar sua luz, para que outros saibam; os descrentes e esquecidos, ao passarem por mim, quero que tenham dúvidas; os que duvidam, certezas. Quero irradiar Papai Noel. Quero que, antes que meu sopro de vida cesse, e minha luz vá se encontrar com a tua, eu possa ouvir alguém dizer: “- Papai Noel? Sim, sim, eu acredito! Basta olhar para aquela senhora que vai ali: ela anda de mãos dadas com ele o tempo todo!”

Comentários

  1. Eu também acredito Nele e agradeço a ti por me ajudar a manter os sonhos e a esperança sempre vivos.
    Feliz Natal!
    Dani

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  2. O Natal é, sem dúvida, um momento oportuno para constatarmos a existência da magia. E nos remete a um colorido especial. É como se houvesse poesia no ar, belos gestos a compartilhar e inúmeras oportunidades para celebrar a Vida. É lindo!

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