Talvez
fosse conveniente, numa época como esta, lembrar da origem histórica da data
festiva que nos preparamos para viver; ou, quem sabe, lembrar da instituição
romana dos “pater família”, e de como influenciaram na formação das
instituições políticas daquela civilização e, por extensão, de toda a
civilização ocidental. Sem deixar de reconhecer a importância destas discussões e
de muitas outras que me vêm à memória, penso que, num mundo tão informativo e,
por outro lado, tão eternamente carente de laços profundos, talvez fosse
conveniente, hoje, refletir não sobre fatos, mas sobre os sentimentos que
provoca esta palavra: pai. Pois, ainda que possa parecer incomum,
num tempo em que as emoções parecem incontroláveis e avessas a qualquer
abordagem mental, refletir sobre sentimentos é não só possível, mas também
útil, pois estes fenômenos afetivos amadurecem muito quando refletimos sobre
eles; tornam-se mais sólidos, profundos e bem “enraizados”. Tudo o que é
humano, em geral, se expande e floresce com a reflexão, enquanto que o impulso
animal retrocede.
Refletindo,
então, sobre esta palavra, a imagem mais sugestiva que me veio foi a deste pôr
de sol que presencio agora: como o sol é paterno, em sua rota vertical e
luminosa! Em sua postura digna de quem sabe qual é o seu papel: iluminar,
aquecer, dar vida, mas deixar seus filhos livres para que optem pela luz ou
pelas sombras, se assim o quiserem ou necessitarem; que vivam como prefiram,
mas, se querem estar com ele, a opção pela luz é necessária e indiscutível. Com
sua força, grandeza e fidelidade a si mesmo e à sua missão e, ao mesmo tempo,
respeito pelo ritmo e distância que cada um necessita, pela luz que cada um
pode receber...com a generosidade discreta de quem não espera nada em
troca...mas se dá simplesmente por ser o que é, pois se realiza ao fazê-lo, sem
expectativas.
A
natureza é sempre simbólica, o que equivale a dizer que é pedagógica em todas
as suas manifestações. Todos os exemplos que nos oferece são caminhos para a
realização humana; qual ser humano não gostaria de ser um pequeno sol para os seus
filhos? Que estímulo maior para isso do que o amor que nutrimos por eles?
Quando vemos e entendemos os modelos oferecidos pela vida, pelo sol, por tudo
que é belo e harmonioso, à nossa volta, compreendemos melhor nosso
próprio papel, e o amor nos impulsiona a vivê-lo, pois, ao querermos
retroceder e nos acomodarmos em nossa inerte e egoísta zona de conforto
psicológica, a voz do amor, em nós, diz: “Caminha!”
Ou seja, a vida nos dá os objetivos e as ferramentas, os meios e os
fins. O jovem, tão frágil e inseguro em outras circunstâncias, com seu filho
adormecido nos braços, tem algo de sol em seu semblante; cumpre a missão de que
tanto falavam os gregos: foge à banalização e sacraliza a vida. O sol nascerá,
neste domingo festivo, como em todos os dias; mas nascerá de maneira especial
para os pais que queiram vê-lo e ver a si próprios através do mito; eles
estarão, todos, um pouco mais luminosos, neste dia!
Uma pérola para reflexão. Obrigado!
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