Ao Professor




É mais ou menos consensual que professor vem do latim “PROFATERE”, professar, afirmar perante todos, mas há quem diga que também tem ligações com o germânico “FADERI”, de “FADER”, pai.
Como as palavras, ao irem se esvaziando, nos pregam peças, ao deixarem de nos dar “o seu recado”... (ou somos nós que pregamos peças, ao esquecermos o significado das palavras?)  Seja como for, lá vai mais uma: educador, do latim EDUCIR, trazer à tona...
Lembra-se daquele dia em que teve de ir à frente da sala, para ler diante de todos a resposta do seu dever de casa? Ou, um pouco mais tarde, para apresentar seu seminário ou sua tese? É, meu caro; talvez não seja uma lembrança muito agradável. Enfrentar público, ainda que benevolente com sua inexperiência de aluno, não costuma ser fácil. E quando o público já não é tão benevolente? E quando você já não é apenas um aluno?
Fico pensando na raiz da palavra: professar, declarar fé...trazer à tona. Em que será que o verdadeiro professor, aquele vocacionado para isso, empenha sua fé? Eu tenho um palpite: ele tem fé no ser humano que dorme (às vezes, literalmente) no aluno à sua frente. Ele acredita poder despertá-lo (em todos os sentidos!), trazê-lo à tona.
Há quem diga que os professores de matemática são todos um terror, e que os de português, então... não acredito nisso. Não creio que a disciplina em si torne um professor bom ou mau. São algumas décadas de vida conhecendo pessoas que me narravam antigas histórias: “Aquele professor... marcou minha vida! A matéria era difícil, mas ele era sensacional!” Sim, ele deu o seu recado, trouxe alguma coisa à tona, talvez não para todos, mas para pelo menos um ser humano. A matéria? Acho que era geografia... não lembro  muito bem...
um antigo livro sagrado budista que diz o seguinte: “Mais que mil palavras sem sentido, vale uma única palavra que traz consolo a quem a ouve.” Sim, o HIEROS LOGOS grego, ou seja, a palavra sagrada capaz de trazer à tona um sentido, uma direção, um referencial. Curvada sobre meus livros, preparando mais uma aula (sim, também sou professora!), dedico minha mais profunda gratidão a estes colegas que tomaram como missão de vida não deixar para trás o mundo sem pronunciar esta palavra tão especial... ainda que apenas uma...compensa fazê-lo! É também uma forma de dar à luz, de ser FADER.
E, por falar em vocação, ela vem do latim vocatio, “chamamento”, de VOCARE, “chamar” e de VOX, “voz, som, chamado, fala.” Quem nos chama e invoca, amigo professor? De onde vem esse “sagrado” que pode iluminar nossa palavra? Quem nos convoca (palavra que tem a mesma raiz de vocação!)  a esse trabalho?
Quase que sem pensar, algo me chama a olhar para cima, para dentro, para algum lugar misterioso, em alguma direção, e a inclinar-me, grata, ante este “Fader”, que chama todas os seres e coisas a realizarem seus destinos. Parabéns pelo seu dia, professor!

Comentários

  1. Parabéns mestra pelos ensinamentos a mim transmitidos nos encontros da NA.

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  2. Obrigada por compartilhar essa mensagem cheia de significados e compromisso pelo conhecimento!!

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