Polifemo, o gigante filho de Poseidon, de um só olho (do
Grego POLY-, “muito”, mais PHANAI, com o sentido de “dizer, declarar,
predizer”, ou seja, “o que muito fala” ou “aquele do qual muito se fala”).
Em sua chave psicológica mais rasa, que é a que alcançamos,
não é difícil imaginar um filho de Poseidon (Mar, horizontalidade, matéria),
gigante, que faz muito barulho (dentro de nós), olha numa só direção
(instintos, desejos) e quer nos devorar.
Odisseu, tão colérico quanto brilhante
mentalmente (uma coisa obscurecendo a outra, é claro), teve que controlar sua
fúria e pensar numa estratégia para se salvar. Embriaga e cega Polifemo com uma
lança aquecida ao Fogo (verticalidade, Espírito), mas nada disso é suficiente:
tem de assumir um novo nome, uma nova identidade para sair vivo. Torna-se Ninguém.
Em contraste com a brutalidade gigantesca e cega de seu próprio
orgulho, cólera e arrogância, ele passa oculto; uma humilde e simples ovelha do
rebanho o leva preso à sua barriga: aquele do poderoso Nome, agora Ninguém. Assim
sobrevive e continua sua marcha rumo a Ítaca, a brilhante.
“Não se ofenda por não ser reconhecido pelos homens, mas por
não ser digno de sê-lo”, dizia o sábio Confúcio. Em paz com sua própria Alma, a
única a quem se deve prestar contas, com um rastro humano para trás e a visão
luminosa de seu ideal divino à frente. A cada passo, imbuído da serenidade dos
sábios; a cada noite, desfrutando do sono dos justos. Perante os homens, Ninguém; perante Deus, um Homem. Que
as Musas nos inspirem para este objetivo...
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